Propriedade e desrespeito.

Eu tenho visto muita conversa na rede (e fora dela) sobre direitos autorais, de imagem, manipulação, etc. Parece que todos querem um lugar ao sol. O que parece ocorrer é que a internet deu maior visibilidade aos problemas existentes anteriormente e também abriu um maior espaço para a exposição de idéias. Nada além disso. O que acontece já acontecia e, parece, vai continuar acontecendo.

O formato de distribuição da mídia propicia uma maior facilidade para que as coisas aconteçam. Os uns e zeros trafegam de um ponto a outro por cabos ou pelo ar e não há muito que se possa fazer. A segurança é igual ao elo mais fraco e implica, necessariamente, em impôr dificuldades tanto para quem faz quanto para quem vê.

A manipulação de imagens sempre existiu, seja ela na revelação, na ampliação, na aplicação de filtros e efeitos, na escolha das imagens que seriam apresentadas, na escolha de um angulo que favoreça determinado aspecto, enfim. Os programas de manipulação de imagem apenas facilitaram o que antes era feito por horas em um quarto escuro e por quem possui conhecimentos mínimos para tal, hoje pode ser feito em minutos (ou horas também) por pessoas que possuam conhecimentos mínimos para tal.

Mas o mais interessante é a parte dos direitos que muitos alegam. Cópia e utilização de trabalhos dos outros também é um fato que ocorre há bastante tempo. Antigamente possuia uma menor visibilidade e ficava mais restrito a grupos pequenos. As músicas podiam ser gavadas em uma fita cassete de uma rádio, um disco, um show, outra fita e escutada dentro do carro ou em casa. Podia ser feito uma fotocópia (ainda hoje ocorre) de um livro, artigo ou outro material para uso próprio ou de pequenos grupos. Como não havia internet, a visualização era restrita.

Com o computador e a transformação de todo material em uns e zeros, tudo ficou mais fácil. A digitalização do material é rápido e mais barata, já que não é necessário a impressão e pode ser visto diretamente no computador. A cópia não autorizada de programas teve seu início. Tentaram as mais diversas formas de proteção para impedir a cópia pirata mas apenas dificultam para os menos esclarecidos. A pirataria continua até hoje.

A internet veio “facilitar” o processo ainda mais e torná-lo mais globalizado. Como uma imagem é como um documento qualquer quando está no computador, seria ingenuidade pensar que a cópia ilegal não ocorreria.

Muito mais grave o fato se torna quando vemos sites mantidos por profissionais que infringem o que eles próprios consideram ilegal. Tenho visto diversos colocando imagens sem créditos, sendo que alguns alegam que foram obtidas na internet, armazenam em local diversos, etc. É aquele negócio de “casa de ferreiro espeto de pau”. Da mesma forma vejo fotógrafos amadores (ou nem tanto), utilizando programas piratas (que é considerado crime) para manipulação (aqui pode ser apenas para correções, mas não vem muito ao caso) das imagens e colocação de assinatura ou logotipos para que os outros não se apropriem de suas imagens. Será que os fins justificam os meios ou seria um desconhecimento do significado de hipocrisia? Alguém poderia começar uma alegação com “Mas…”. Desculpe. Nem mas nem meio mas. As coisas simplesmente são ou não são. Algo como: “Eu pirateio e sou ilegal mas não quero que você faça o mesmo”. Também grave é o fato de mídias impressas publicarem fotos sem informar a autoria das mesmas, atribuindo todo o trabalho a um tal de ‘divulgação’. Grave da mesma forma quando em listas ou fóruns de pessoas ligadas ao meio (fotoclubes, etc) existe a publicação de imagens sem créditos e/ou fontes.

Não pretendia publicar nenhum, mas hoje recebi um endereço do globo esporte (pode clicar mas, sinceramente, acho que os endereços que colocarei a seguir são melhores). Crédito? Agência/EFE, Agência/Reuters. Quem foi/foram os fotógrafos? Então, existe uma preparação atencipada para um evento complexo, a seleção de equipamentos que custam caro como, por exemplo, o caso do Vincent Laforet da Newsweek (tá certo que alí tem uma boa parcela de propaganda do fabricante, mas não vem ao caso), deslocamentos, ficar em local que pode não ser confortável durante horas e carregando peso para fazer boas fotos e outros inconvenientes por nada? Foram as tais agências que fotografaram? Uma coisa é certa. Se outras mídias creditaram o fotógrafo, mesmo sendo de agências como Reuters, Getty e outras, ou o site da globo agiu de má fé ou faltou competência dos responsáveis.

Felizmente existem mídias sérias, que colocam os excelentes trabalhos devidamente creditados. Como o assunto do momento são jogos olímpicos, vale a pena olhar sites como The Sacramento Bee, The Boston Globe, The New York Times, stern.de e tantos outros. Todos com ótimas fotos, algumas de grande beleza e outras ainda engraçadas mas, todas com os devidos créditos.

A utilização indevida das imagens na internet ocorre diariamente e, o autor da foto, pode muito bem processar o ou os infratores legalmente, exigindo que seja ressarcido bem como lhe seja atribuída a autoria da imagem. Se você acha que tem o direito sobre a imagem, a sugestão legal é: “Procure um advogado e entre com uma ação contra os resposáveis”. É claro que nem todos os casos são fáceis de localizar os infratores. Para quem se acha no direito e quer um dinheirinho extra (que lhe é devido), é a opção mais correta.

A utilização ilegal de programas, imagens e outros elementos que possuem licença reservada não possui justificativa. Existem diversos tipos de licenças que permitem a utilização sem o pagamento por terceiros para finalidade comerciais ou não. Quem define como a imagem ou texto deverá ser utilizada é o autor. O fato da imagem estar em um site de compartilhamento de imagens não significa, necessariamente, que possa ser utilizada por qualquer um em qualquer lugar. Basta ver o caso recente da Heineken ou o caso do plágio do The Bulletin.

Bem, a história não começou aqui e nem irá terminar aqui. Enquanto sites e profissionais que deveriam ser sérios não se derem o respeito, fica tudo como está. Se os profissionais (ou amadores) não exigirem os seus direitos, fica tudo como está. Se você desenvolveu um site e está utilizando imagens com diretos reservados, saiba que pode ter que desembolsar algum dinheiro quando menos esperar.

Leitura na rede

Hoje fiquei sabendo que o Grupo Câmara Obscura está preparando um livro de ensaios que deverá ser lançadp no início de agôsto.

Infelizmente, pelo menos para mim, a idéia é de um lançamento único. Pessoalmente eu gostaria que fosse algo semanal. Tá, concordo que seria muito trabalho. Então algo mensal. Não? Bi? Trimestral? O melhor é aguardar agôsto e ver o que o Rodrigo e os envolvidos decidem. Realmente é algo que exige um bom tempo dos envolvidos. Quando a gente vê a coisa pronta, nem se da conta do trabalho que dá. É possível ver pelo número de revistas online que iniciaram e encerraram as atividades após alguns exemplares.

Como eu acho interessante o assunto, isto é, revistas e livros no formato pdf, vou me alongar um pouco sobre o assunto. Já faz algum tempo que utilizo tal tipo de ferramenta. Inicialmente foi na área de linguagens de programação (Lisp e Smalltalk possuem diversos livros no formato pdf para baixar gratuitamente) e, depois, com o Dave Thomas que começou com a venda de livros no formato pdf (inicialmente algo sobre Ruby e extendeu-se para diversas outras linguagens).

Na área da fotografia, tem a PBase Magazine que é trimestral (mas o pessoal resolveu tirar umas férias depois da edição de janeiro/2008). Possui entrevistas, artigos, dicas, etc. Vale a pena conferir o trabalho do pessoal.

Outro local muito bacana para conseguir literatura em pdf-mags.com. Não é específico sobre fotografia mas possui bastante livros sobre o assunto, geralmente acompanhados de ensaios, ilustrações, crônicas, entrevistas, etc. Basta acessar o site e selecionar a categoria desejada. Música, fotografia, moda, artes, vídeo, computação, etc. Ideal para quem gosta.

Como usuário do software livre, não posso deixar de citar a GIMPZine que é uma publicação trimestral com dicas e trabalhos feitos no GIMP. Uma excelente trabalho do Anderson, Guilherme e Mozart. Só para salientar, o Mozart Couto é ilustrador e autor (desenhista e argumentista/roteirista) de histórias em quadrinhos, tendo trabalhos e premiações no Brasil e exterior e, sempre que possível, utiliza o GIMP para suas tarefas. É mais ou menos como fotografia. Quem sabe faz, quem não sabe sai sempre em busca de melhor equipamento (talvez colocando na assinatura as fotos fiquem mais bonitas 🙂 )

Mas não vou fazer uma salada. Outra hora eu falo sobre as alternativas em software livre para deixar o trabalho de alguns legal (não no sentido de bonito, mas todos sabem que pirataria é crime 😉 ).